Foto: https://valdafogaca.wixsite.com/
VALDA FOGAÇA
( Brasil – Bahia )
Poetisa prosadora, cordelista, compositora..
Nasceu na fazenda Olho d´água, município de Coribe, Bahia, em 1955.
Vive em Brasília desde 1967 e cursou a faculdade de Filosofia.
Escreveu "Histórias de Matutos" (romance), inédito. Em 2004 publicou em Letras de Babel II – poesia, Bianchi Editores e Edições Pilar.
LETRAS DEL DESAMOR. Selección de Poesia de Autores Contemporáneos. Montevideo: Bianchi editores; Brasilia: Edições Pilar, s. d. 272 p. ISBN 99S74-663-82-2
Ex. bibl. Antonio Miranda
Operariado
Escorre suor das mãos calejada desses
sertanejos esperançosos que agarram o
cabo da enxada com ânimo e certeza de que
se a chuva não faltar haverá sempre o feijão na mesa.
Escorre suor do rosto do operário numa enfadonha
jornada de oito horas para garantir no fim do mês o salário
que mal compra a cesta básica
que não paga o aluguel,
que não paga a escola
que nem parece um salário
mas que parece uma esmola.
O jeito é virar bicheiro,
político ou banqueiro
quem sabe pastor de igreja
qualquer coisa desse gênero
desde que não fraqueja!
O suor que goteja: das mãos, do rosto
desses cidadãos, enriquece o patrão,
o patrão orgulhoso do que faz;
o feitor sem chicote que açoita se escravo,
o escravo assalariado.
O mendigo
O verme rastejante!
Tu chafurdas na lamacenta escória
enquanto estendes o olhar suplicante
e a mão que implora.
A sarjeta é a tua morada
a solidão é a tua companheira
o teu viver é uma lamaceira;
que vida desgraçada!
Os destroços de tuas "vitórias"
Arrasta-te à morte,
e com o cálice de amarguras
tu brindas a tua sorte.
Visto que tornou-te a escória
para os que são escravos
dum sistema corrompido,
percebes então, que a tua nulidade,
denuncia o autor do teu homicídio.
Eis que tu te encontras
relegado a tua própria sorte,
ó verme desarvorado!
Tu vives de agruras, e sobre os ombros:
as grandes dores
o peso de estranhos amargores
de sarcasmos e anseios.
Mais uma vez tu estendes a mão
Ó miserável pedinte!
Pedes uma esmola
para dar força à mão que implora,
para continuar pedindo no dia seguinte.
Medusa
Oh! Mulher, porque andas
embriagada e confusa?
Teu rosto é puro deslumbre
de total palor,
tu és sempre medusa
oh! Deusa do horror.
Não te faltarão horas tristes
de angústia e solidão,
consumirás-te na bebida
para esquecer tua dor,
faltará-te o olhar sincero
com paixão...
tua própria sombra
causa-te pavor.
Para saciar teus desejos,
tu recorre ao homem
objeto, tua mercadoria,
finda a noite, surge a aurora,
tu sem bocejo,
de copo na mão, desprovida
de alegria.
Esquelética, perambula
pela casa deserta,
depara com um profundo vazio,
na desventura tu´alma desperta
para um infortúnios que tu jamais viu.
Sacrifício de oferendas
Sacrificarei meu amor com oferendas
arrancarei meu coração em fendas.
Trespassado de dor
ofertarei à Afrodite e arrebentarei este amor maldito.
Este amor que me enlouquece,
que me cega e me entristece
que me castra e me desorienta.
Quero livrar-me dele.
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